Todas as religiões, seitas e cultos, desde as mais primitivas, sempre
apresentaram maneiras próprias de oferecer aos seus deuses sacrifícios. Se
vivêssemos numa tribo indígena pagã, muito provavelmente gastaríamos horas e
horas pulando e cantando diante de uma fogueira e assim louvando aos deuses. Se
fôssemos gregos da antiguidade, estaríamos num templo sustentado por belíssimas
colunas, prestando nossas homenagens e sacrifícios aos deuses do Olimpo; se não
fossemos esclarecidos na fé, mesmo sendo pessoas modernas, estaríamos correndo
atrás de alguma superstição sem sentido, na fila de alguma “sortista”, “leitora
de mãos” ou praticando outra asneira qualquer.
Porém nós somos cristãos, pertencemos à Igreja Católica, aquela que
Jesus Cristo fundou, temos a tradição determinada pelo mesmo Cristo, que antes
de se entregar na cruz, para nos permitir a salvação e a vida eterna, nos
orientou sobre o que fazer: "E tomou
um pão, deu graças, partiu e distribui-o a eles, dizendo: 'Isto é o meu corpo
que é dado por vós. Fazei isto em minha
memória'. E, depois de comer, fez o mesmo com o cálice, dizendo: 'Este
cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós."(Lc
22, 19- 20).
Tudo nasce em Israel como refeição. Deus já havia escolhido a refeição
como lugar de encontro dele com o seu povo. Os antigos sacrificavam animais no
templo, mas isso não era o mais importante, e sim a refeição em família. Essas
refeições eram bem originais. Eles comiam de pé, olhando para o futuro.
Deus escolheu a refeição por acreditar que a família é o lugar do amor,
da partilha e da sustentação da vida. Mas Jesus escolheu uma maneira, ainda
mais delicada e profunda, os evangelhos nos relatam que durante toda a sua
vida, Ele usou as refeições para ensinar, e ensinou comendo, ora com pecadores,
ora com fariseus e publicanos, ora com os amigos Marta, Maria e Lázaro, e isso
intrigava a todos, pois era sempre tudo muito simples na forma, mas rico em
alegria e carinho.
E quando estava para chegar sua hora de partir, Ele não foi oferecer
sacrifícios no templo, mas se reuniu com os apóstolos, e quando aquele momento
estava no auge da beleza, Ele quis que fosse para sempre recordado por todos. Para
marcar o seu último encontro com os amigos não bastava apenas lavar-lhes os pés
ou ainda, dar a eles seu corpo e sangue como alimento; na verdade: “Naquele
instante Ele lhes entrega a própria vida para que eles entregassem as próprias
vidas a humanidade. Este é o sentido profundo da eucaristia: não apenas
comungar de seu corpo, mas da totalidade de sua vida, incorporando-a à nossa
própria vida. Por isso pede que o façamos em memória dele, para significar que
Ele estaria bem próximo, numa entrega diária e cotidiana, nos animando para
levarmos a nossa vida para frente.”(J.B.Libânio, homilia da Quinta-feira Santa
– 05.04.2012)
Desta forma, a cada dia, temos duas eucaristias: aquela que acontece na
Missa, bonita e festiva, em que obedecendo ao que Ele nos pediu, recordamos sua
Paixão, Morte e Ressurreição; e há uma outra eucaristia, cotidiana, quando
exercemos o nosso trabalho e procuramos executá-lo justa e corretamente, quando
nos sentamos no chão para brincar com um filho, quando visitamos um doente,
quando acolhemos aquele que sofre, quando nos oferecemos verdadeira e
desinteressadamente para o serviço da
nossa Igreja, quando nos colocamos em missão, obedecendo a Jesus – “Ide e
evangelizai todos os povos. (Mt 28,18)”.
Se refletirmos bem, perceberemos que tudo o que precisa ser feito é um pouco
de entrega de nossa vida, que é a própria eucaristia.
Quando Jesus instituiu esse mistério, não pensou num rito isolado, mas
um modo de vida, que Ele quer que seja vivido em profundidade, nesta
quinta-feira (07.06.2012) o mundo todo celebra Corpus Christi, que a Eucaristia
desta quinta-feira seja muito mais que a belíssima refeição que nos é dada pelo
próprio Cristo, que ela venha a ser também um grande marco de conversão e
renovação de nossas vidas, que o Cristo que irá nos alimentar neste Corpus
Christi, mantenha-se vivo e real em nós para sempre, fazendo-nos pensar e agir
em cada momento de nossas vidas de forma mais semelhante à Dele, e que assim
não nos contentemos apenas em adorá-Lo, mas sejamos seguidores e testemunhas do
Cristo Vivo, sejamos Sacrários vivos onde habita Jesus e vamos leva-Lo a todas
as pessoas mundo afora.
Que o Senhor nos ilumine neste dia da Eucaristia para que lembremos, adoremos
e sigamos a Jesus.
Carlos Rissato
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