Vou me permitir uma “carona” no texto publicado aqui em nosso blog (Não
se faz mais Igrejas de antigamente) e estender a discussão um pouco mais.
No primeiro momento em que me foi apresentado o texto em questão, resumi
em uma única palavra, polêmico, ou ao menos com um grande potencial para tal; e
só isso já seria motivo suficiente para que fosse divulgado, pois o que
precisamos para evitar a obsolescência é mantermo-nos sempre em atividade,
especialmente em atividade intelectual, e ao sermos questionados e nos propor
ao debate nos colocamos em atividade, atividade esta que nos atualiza, nos
renova e nos mantém atentos e integrados à realidade que nos cerca.
Talvez um equívoco comum, quando ouvimos falar de igreja nova e igreja
antiga é raciocinar apenas em relação à missa, pois infelizmente, nos dias de
hoje, vemos mais e mais pessoas confundir Igreja, atividade evangelizadora,
missões e comunidade com a Missa; e isto se deve certamente por que não nos
dedicamos a vida em comunidade como deveríamos, por não vivermos como Igreja e apenas
separar um pouco do nosso “precioso” tempo para “assistir” a missa do domingo
quando “possível”.
Quando falamos da Santa Missa, ou seja, quando falamos em reviver a
Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, devemos sempre atender ao
preceituado nas normas litúrgicas, especificamente o que nos ordena a Instrução
Geral do Missal Romano – IGMR; e deste modo, obedecer ao que nos é pedido pela
Igreja – “Com efeito, a celebração da Eucaristia é uma ação de toda a Igreja,
onde cada um deve fazer tudo e só o que lhe compete, segundo o lugar que ocupa
no Povo de Deus.” (IGMR n° 5). Desta forma vou descartar longos comentários a
respeito de “novidades” como as atuais missas-show ou outras invencionices sem
sentido, fruto de uma coletividade que ainda não se dedicou a entender
verdadeiramente o sentido da Celebração Eucarística e meia dúzia de sacerdotes
que insistem em rasgar as normas litúrgicas pelas quais foram formados, tentando
chamar esses absurdos de novidades pós-conciliares; sinceramente acredito que
deveriam ao menos usar um pouco do seu tempo ocioso para reler e estudar com
mais seriedade e respeito os documentos do Concílio e passarem verdadeiramente
a “renovar” suas comunidades, aplicando e vivendo as orientações do Concilio
Vaticano II.
Não quero parecer tradicionalista, mas Igreja atualizada é diferente de
invencionices teatralescas e desautorizadas, que eventualmente somos obrigados
a presenciar em certas Celebrações Eucarísticas, onde o sacerdote se imagina um
mestre de cerimônias, ou apresentador de programa de auditório, os leitores,
monitores e ministros agem como artistas globais ou coisa semelhante, a
assembleia se comporta como torcida em estádio de futebol; e quando tudo
termina cada qual retoma seus afazeres cotidianos e espera até o próximo
domingo para o outro show.
Voltando então à questão da Igreja, e aí sim falamos de Igreja no seu
conjunto; tomo a liberdade de trazer à nossa conversa alguns conceitos do padre
jesuíta Avery Dulles (1918 – 2008); apenas para registro: Avery Dulles é um
caso raro dentro da Igreja, pois mesmo sem ser bispo foi feito cardeal pelo
Papa João Paulo II em 2001.
O teólogo, professor, sacerdote e cardeal Dulles apresenta-nos uma
fantástica obra – Modelos da Igreja,
onde expõe cinco concepções de Igreja, que se fundem, sendo elas:
- o modelo institucional,
decorrente da organização jurídica da Igreja;
- o modelo místico, que realça
a comunhão de amor dos fiéis com Deus e entre si;
- o modelo sacramental, que
põe em foco a face sensível e humana da Igreja como sinal que exprime e
comunica a vida do próprio Deus;
- o modelo querigmático, que
focaliza a Igreja como arauto da Palavra de Deus;
- o modelo diaconal, que
considera a Igreja como servidora e promotora da justiça, da paz e da
fraternidade entre os homens.
Dulles julga sabiamente que nenhum desses modelos esgota o conteúdo da
realidade da Igreja, que, em última análise, é um mistério ou algo de
transcendental. Para aproximar-se dessa realidade transcendental, o estudioso
deve combinar entre si os aspectos válidos de cada qual das eclesiologias
apontadas, dando especial ênfase ao modelo sacramental.
A Igreja de Jesus Cristo, a nossa Igreja de Sempre, realiza
simultaneamente os cinco enfoques indicados, sendo, porém, que nenhum destes
pode ser aceito de maneira exclusiva e irrestrita; tampouco apresentar-se com
inflexibilidade e rigidez. Esse é o ponto fundamental para que tenhamos sempre
uma Igreja interessante para todos e de todos.
A Igreja não pode parar, ela é o Povo de Deus que caminha, caminha
seguindo Jesus, caminha para o encontro definitivo com Deus; conforme nos ensina
a Constituição pastoral Gaudium et Spes: “As alegrias e as esperanças , as
tristezas e as angustias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os
que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angustias
dos discípulos de Cristo” (GS 1); portanto a Igreja de hoje é também a de ontem
e será a de amanhã; porém ela não envelhece pois se renova sempre, mantendo-se
em movimento com os cristãos e para os cristãos.
Cabe a nós como cristãos e corpo desta Igreja mantê-la constantemente em
atividade; pois o que é preciso para evitar a obsolescência é manter a
atividade, atividade que a atualiza, renova, alegra e a faz atraente,
mantendo-a universal.
Atue na Igreja e a mantenha viva, jovem e Santa!
Carlos Rissato
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