sábado, 9 de junho de 2012

A Igreja viva não envelhece


Vou me permitir uma “carona” no texto publicado aqui em nosso blog (Não se faz mais Igrejas de antigamente) e estender a discussão um pouco mais.

No primeiro momento em que me foi apresentado o texto em questão, resumi em uma única palavra, polêmico, ou ao menos com um grande potencial para tal; e só isso já seria motivo suficiente para que fosse divulgado, pois o que precisamos para evitar a obsolescência é mantermo-nos sempre em atividade, especialmente em atividade intelectual, e ao sermos questionados e nos propor ao debate nos colocamos em atividade, atividade esta que nos atualiza, nos renova e nos mantém atentos e integrados à realidade que nos cerca.


Talvez um equívoco comum, quando ouvimos falar de igreja nova e igreja antiga é raciocinar apenas em relação à missa, pois infelizmente, nos dias de hoje, vemos mais e mais pessoas confundir Igreja, atividade evangelizadora, missões e comunidade com a Missa; e isto se deve certamente por que não nos dedicamos a vida em comunidade como deveríamos, por não vivermos como Igreja e apenas separar um pouco do nosso “precioso” tempo para “assistir” a missa do domingo quando “possível”.

Quando falamos da Santa Missa, ou seja, quando falamos em reviver a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, devemos sempre atender ao preceituado nas normas litúrgicas, especificamente o que nos ordena a Instrução Geral do Missal Romano – IGMR; e deste modo, obedecer ao que nos é pedido pela Igreja – “Com efeito, a celebração da Eucaristia é uma ação de toda a Igreja, onde cada um deve fazer tudo e só o que lhe compete, segundo o lugar que ocupa no Povo de Deus.” (IGMR n° 5). Desta forma vou descartar longos comentários a respeito de “novidades” como as atuais missas-show ou outras invencionices sem sentido, fruto de uma coletividade que ainda não se dedicou a entender verdadeiramente o sentido da Celebração Eucarística e meia dúzia de sacerdotes que insistem em rasgar as normas litúrgicas pelas quais foram formados, tentando chamar esses absurdos de novidades pós-conciliares; sinceramente acredito que deveriam ao menos usar um pouco do seu tempo ocioso para reler e estudar com mais seriedade e respeito os documentos do Concílio e passarem verdadeiramente a “renovar” suas comunidades, aplicando e vivendo as orientações do Concilio Vaticano II.

Não quero parecer tradicionalista, mas Igreja atualizada é diferente de invencionices teatralescas e desautorizadas, que eventualmente somos obrigados a presenciar em certas Celebrações Eucarísticas, onde o sacerdote se imagina um mestre de cerimônias, ou apresentador de programa de auditório, os leitores, monitores e ministros agem como artistas globais ou coisa semelhante, a assembleia se comporta como torcida em estádio de futebol; e quando tudo termina cada qual retoma seus afazeres cotidianos e espera até o próximo domingo para o outro show.

Voltando então à questão da Igreja, e aí sim falamos de Igreja no seu conjunto; tomo a liberdade de trazer à nossa conversa alguns conceitos do padre jesuíta Avery Dulles (1918 – 2008); apenas para registro: Avery Dulles é um caso raro dentro da Igreja, pois mesmo sem ser bispo foi feito cardeal pelo Papa João Paulo II em 2001.

O teólogo, professor, sacerdote e cardeal Dulles apresenta-nos uma fantástica obra – Modelos da Igreja, onde expõe cinco concepções de Igreja, que se fundem, sendo elas:

- o modelo institucional, decorrente da organização jurídica da Igreja;
- o modelo místico, que realça a comunhão de amor dos fiéis com Deus e entre si;
- o modelo sacramental, que põe em foco a face sensível e humana da Igreja como sinal que exprime e comunica a vida do próprio Deus;
- o modelo querigmático, que focaliza a Igreja como arauto da Palavra de Deus;
- o modelo diaconal, que considera a Igreja como servidora e promotora da justiça, da paz e da fraternidade entre os homens.

Dulles julga sabiamente que nenhum desses modelos esgota o conteúdo da realidade da Igreja, que, em última análise, é um mistério ou algo de transcendental. Para aproximar-se dessa realidade transcendental, o estudioso deve combinar entre si os aspectos válidos de cada qual das eclesiologias apontadas, dando especial ênfase ao modelo sacramental.

A Igreja de Jesus Cristo, a nossa Igreja de Sempre, realiza simultaneamente os cinco enfoques indicados, sendo, porém, que nenhum destes pode ser aceito de maneira exclusiva e irrestrita; tampouco apresentar-se com inflexibilidade e rigidez. Esse é o ponto fundamental para que tenhamos sempre uma Igreja interessante para todos e de todos.

A Igreja não pode parar, ela é o Povo de Deus que caminha, caminha seguindo Jesus, caminha para o encontro definitivo com Deus; conforme nos ensina a Constituição pastoral Gaudium et Spes: “As alegrias e as esperanças , as tristezas e as angustias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angustias dos discípulos de Cristo” (GS 1); portanto a Igreja de hoje é também a de ontem e será a de amanhã; porém ela não envelhece pois se renova sempre, mantendo-se em movimento com os cristãos e para os cristãos.

Cabe a nós como cristãos e corpo desta Igreja mantê-la constantemente em atividade; pois o que é preciso para evitar a obsolescência é manter a atividade, atividade que a atualiza, renova, alegra e a faz atraente, mantendo-a universal.

Atue na Igreja e a mantenha viva, jovem e Santa!

Carlos Rissato

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