terça-feira, 19 de junho de 2012

Pensando com Fé



Uma excelente fonte para o aprendizado e a boa reflexão são os documentos da Igreja; infelizmente não é um habito muito comum, especialmente aqui no Brasil onde os campeões de vendas na literatura resumem-se a algumas “revistas” de fofocas e “livrinhos de autoajuda”; certamente avançaríamos muito em nossa vida religiosa se dedicássemos um pouco mais de nosso tempo a estudar tais documentos.

O Papa João Paulo II na sua Encíclica Fides et Ratio fala da necessidade de crer e confiar, mas sem perder a lucidez; e é esse o tema que ouso convidá-los a discutir com este texto.


A Fé necessita de reflexão; a obediência pelo respeito e não pelo medo só acontece com conhecimento e entendimento, é desta forma que se faz a Fé inteligente. A obediência cega que advém do medo ou de forçosa imposição não exige nenhum raciocínio e, portanto é burra; sobrevivendo apenas enquanto a força e o medo forem capazes de impô-la ou a ignorância daqueles que a ela se submetem subsistir.

Fé tem que ser refletida para vir acompanhada de obediência consciente, é o equilíbrio entre acreditar mais e entender melhor que nos faz crescer na Fé, pois do contrário nos tornamos escravos da idolatria e do fideísmo. Sem o questionar nos entregamos a superstições absurdas e nos arriscamos com falsos profetas.

Cães não pensam, mas se bem treinados tornam-se extremamente obedientes e são capazes de fazer coisas incríveis, seres humanos que não questionam e não raciocinam, tornam-se como “gado” na mão de uns poucos que os “lideram”, podendo ser levados a situações tão absurdas quanto o suicídio coletivo, por varias vezes já observado em nossa história recente.

Um bom primeiro passo para a Fé consciente, pode muito bem passar pela reflexão a respeito da profunda diferença entre a lógica humana e a lógica de Deus; a lógica de nosso mundo é limitada, busca invariavelmente a satisfação pessoal e os resultados materiais imediatos. A lógica de Deus, é radicalmente diferente; se é que podemos ousar explicá-la, é a lógica do amor ágape e da misericórdia infinita.

Enquanto Jesus diz a todos que: “os últimos serão os primeiros” (Mt 20,16), nós nos esmeramos em supervalorizar e premiar os que “chegam na frente”. Enquanto o mundo não mede esforços na tentativa de acumular poder, riqueza e longevidade, Deus, que tudo pode, escolheu fazer-se homem como nós, mortal e passível de fraquezas, para gratuitamente nos dar a salvação definitiva.

Fé e razão não se apresentam como dois universos distintos e isolados, não podemos enunciar ou demarcar o limite até onde vai a razão e onde deve começar a fé.

A encíclica papal citada apresenta-nos o caráter da circularidade entre razão e fé, que caminham juntos e convivem num relacionamento simbiótico. Assim, uma razão sem Fé empobrece-se, estreita-se e finalmente naufraga; ao mesmo tempo em que a Fé sem razão acaba por reduzir-se a encenações teatrais e histeria, sentimento fantasioso e mito e da mesma forma também perece.

Portanto, fujamos da obediência cega e aprimoremos o questionar, é assim que se defende a Fé e se avança como Igreja.

Mais fé com mais razão, pensemos nisto com Fé.


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