Uma
excelente fonte para o aprendizado e a boa reflexão são os documentos da
Igreja; infelizmente não é um habito muito comum, especialmente aqui no Brasil
onde os campeões de vendas na literatura resumem-se a algumas “revistas” de
fofocas e “livrinhos de autoajuda”; certamente avançaríamos muito em nossa vida
religiosa se dedicássemos um pouco mais de nosso tempo a estudar tais documentos.
O
Papa João Paulo II na sua Encíclica Fides
et Ratio fala da necessidade de crer e confiar, mas sem perder a lucidez; e
é esse o tema que ouso convidá-los a discutir com este texto.
A
Fé necessita de reflexão; a obediência pelo respeito e não pelo medo só
acontece com conhecimento e entendimento, é desta forma que se faz a Fé
inteligente. A obediência cega que advém do medo ou de forçosa imposição não
exige nenhum raciocínio e, portanto é burra; sobrevivendo apenas enquanto a
força e o medo forem capazes de impô-la ou a ignorância daqueles que a ela se
submetem subsistir.
Fé
tem que ser refletida para vir acompanhada de obediência consciente, é o
equilíbrio entre acreditar mais e entender melhor que nos faz crescer na Fé,
pois do contrário nos tornamos escravos da idolatria e do fideísmo. Sem o
questionar nos entregamos a superstições absurdas e nos arriscamos com falsos
profetas.
Cães
não pensam, mas se bem treinados tornam-se extremamente obedientes e são
capazes de fazer coisas incríveis, seres humanos que não questionam e não
raciocinam, tornam-se como “gado” na mão de uns poucos que os “lideram”,
podendo ser levados a situações tão absurdas quanto o suicídio coletivo, por varias
vezes já observado em nossa história recente.
Um
bom primeiro passo para a Fé consciente, pode muito bem passar pela reflexão a
respeito da profunda diferença entre a lógica humana e a lógica de Deus; a
lógica de nosso mundo é limitada, busca invariavelmente a satisfação pessoal e
os resultados materiais imediatos. A lógica de Deus, é radicalmente diferente; se
é que podemos ousar explicá-la, é a lógica do amor ágape e da misericórdia
infinita.
Enquanto
Jesus diz a todos que: “os últimos serão
os primeiros” (Mt 20,16), nós nos esmeramos em supervalorizar e premiar os
que “chegam na frente”. Enquanto o mundo não mede esforços na tentativa de
acumular poder, riqueza e longevidade, Deus, que tudo pode, escolheu fazer-se
homem como nós, mortal e passível de fraquezas, para gratuitamente nos dar a salvação
definitiva.
Fé
e razão não se apresentam como dois universos distintos e isolados, não podemos
enunciar ou demarcar o limite até onde vai a razão e onde deve começar a fé.
A
encíclica papal citada apresenta-nos o caráter da circularidade entre razão e
fé, que caminham juntos e convivem num relacionamento simbiótico. Assim, uma
razão sem Fé empobrece-se, estreita-se e finalmente naufraga; ao mesmo tempo em
que a Fé sem razão acaba por reduzir-se a encenações teatrais e histeria,
sentimento fantasioso e mito e da mesma forma também perece.
Portanto,
fujamos da obediência cega e aprimoremos o questionar, é assim que se defende a
Fé e se avança como Igreja.
Mais
fé com mais razão, pensemos nisto com Fé.
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