terça-feira, 26 de junho de 2012

A criação geme em dores de parto (Rm 8,22)


Em junho de 1972 pudemos ver a primeira tentativa a nível global para organizar as relações entre o homem e o meio ambiente. Ainda era muito forte a ideia de que o meio ambiente pudesse ser uma fonte inesgotável de recursos; porém, a ciência já acusava o surgimento discreto dos primeiros indicativos de problemas: inversões térmicas, secamento de lagos e surgimento de “ilhas de calor”.

Desta forma, fazia-se necessário organizar o mundo para uma política de ajuda mútua e cuidado para com o ambiente; a ONU reúne representantes de 113 países membros e organiza então a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente - a Conferência de Estocolmo.


O contraponto em Estocolmo estabeleceu-se pela disputa entre o “desenvolvimento zero” sustentado pelos países desenvolvidos e o “desenvolvimento a qualquer custo”, na época a grande bandeira das nações subdesenvolvidas.

Vinte anos mais tarde, repete-se o congresso, agora tendo por cenário o Rio de Janeiro, era a ECO-92. Os holofotes voltam-se agora para a “sustentabilidade”, o grande debate é para se estabelecer um novo modelo para a promoção do desenvolvimento sustentável.

O documento assinado pelos mais de cem países nesta conferencia mundial, estabelece uma série de princípios, sendo o primeiro deles uma referência ao fato de que desenvolvimento sustentável não é alcançado através do desenvolvimento econômico, ambiental ou político isoladamente, mas antes, e acima de tudo, deve ser medido pela sua capacidade de promover e salvaguardar a dignidade da pessoa humana.

Basta um olhar ao redor e percebemos que os propósitos e o belo discurso ainda não saíram do papel, nós continuamos a ver e sentir as consequências de um desenvolvimento desenfreado, onde o ser humano é considerado obstáculo e não objetivo final.

Ontem (sexta-feira, 22 de junho de 2012) encerrou-se a RIO+20, o maior evento já realizado pela ONU até hoje. Dizem os organizadores, que o objetivo não era discutir meio ambiente, e sim como as esferas sociais e ambientais, além da econômica devem se articular no desenvolvimento de um país.

A palavra de ordem da RIO+20 agora é “economia verde”, que de forma simples significaria promover a sustentabilidade sem a necessidade de redução no consumo de recursos.

Porém o que se percebe, é que, da forma como vem sendo discutida, não responde às necessidades dos mais pobres; pelo contrário, caracteriza-se como uma expressão da mercantilização da terra. Um dos muitos exemplos disto é a especulação em relação ao acesso à água potável; a água não é vista como um bem escasso, mas como uma mercadoria com a qual se pode lucrar, às custas, muitas vezes, de um aumento da pobreza e injustiça.

Definitivamente, a economia verde não inclui fundamentos que garantam que seja uma economia justa, solidária, preocupada com as gerações futuras e a serviço dos mais vulneráveis. E assim, a Rio+20 passará para a história como mais uma conferência da ONU sobre meio ambiente, que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.

Carlos Rissato

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