Obesidade Intelectual

Sem a intenção de qualquer sentimento discriminatório e desprovido de qualquer pré-conceito quanto ao tema obesidade, mas definitivamente este é um dos grandes problemas para a saúde da humanidade e que se evidenciou mais e mais a partir do fim do século passado.

O mundo nos impõe a escolha pelo “mais gostoso” e poucas vezes nos oferece a opção do mais saudável, vivemos no império do fast-food, dos lanches rápidos e da comida pronta; quase nunca temos tempo para uma verdadeira refeição em família, onde além de nos alimentar, também partilhamos nossa vida.

Infelizmente o reflexo direto deste modo de vida espelha-se na saúde da comunidade. Durante esta quaresma, além da reflexão, oração e conversão a Igreja no Brasil nos propõe a Campanha da Fraternidade - 2012, com tema: “Fraternidade e saúde pública” e o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra!”. Somos todos sabedores de que o ritmo de vida frenético que o mundo secularizado nos impõe tem enorme responsabilidade na degradação da nossa qualidade de vida e quando somado à escassez de políticas públicas sérias, bem planejadas e honestamente administradas promovem um verdadeiro caos na saúde; basta acompanhar diariamente pela mídia ou pior ainda, buscar atendimento médico-hospitalar na rede pública.

Voltando agora a questão inicial, do mesmo modo que a obesidade nos causa problema físico e afeta nossa saúde, o mundo atual também despeja sobre nós tamanha quantidade de informação, notícias e comentários que se torna humanamente impossível tratá-las, apenas registramos e jogamos para dentro do nosso cérebro acreditando que possam ser importantes e venham a fazer diferença no nosso dia a dia. Porém, o que verdadeiramente acontece é que apenas armazenamos gordura mental, não temos tempo para discernir sobre as informações que recebemos, não conseguimos estudar nenhum assunto dos propostos e consequentemente somos incapazes de emitir uma opinião própria a respeito de tudo isso que chega até nós, apenas decoramos e repetimos algumas opiniões de uma ou outra eloquente “celebridade global”.

A informação inútil e obesa é despejada sobre nós a todo momento, basta observar a quantidade das chamadas “revistas de variedades” numa banca de jornal, ou os ditos livros de leitura fácil, isto para não falar da televisão, a mais eficiente máquina de alienar e idiotizar já desenvolvida pelo homem.

Vivemos num tempo em que as pessoas se viciaram em juízos apressados e opiniões imediatistas, vazias e precipitadas. Os fornecedores dessa adiposa e maléfica alimentação intelectual são os falsos “profissionais da mídia”, que em favor da popularidade e audiência, nos servem calóricas e insensatas pizzas-telenovelas, despropositados e gordurentos programas de auditório-hambúrgers triplos, e o pior de todos os pratos desta perversa e maléfica cozinha: a venenosa gordura-trans  dos reality-shows.

No meio dessa inundação de informações as tradições são esquecidas, o conhecimento é desprezado, a família é ignorada e a religião vira mais um mico. Floresce com vigor a esperteza, a pornografia, o plágio e a imitação, a falta de moral e o egoísmo; não se trata do “fim dos tempos” como alguns apregoam, mas trata-se sim de uma questão de obesidade intelectual, que vem sendo sutilmente induzida na mente e no espírito humano, a comunidade de hoje está obesa no raciocínio, nos sentimentos e consequentemente no agir.

Que a campanha da fraternidade deste ano nos auxilie a repensar também  nossa saúde intelectual, que não sejamos tomados de assalto pela gordura mental e percamos nosso raciocínio critico, aceitando as barbaridades que a todo instante nos impõe os grandes cozinheiros da prejudicial fast-food do intelecto, que os verdadeiros valores cristãos estejam sempre em nosso pensar e agir.

Carlos Rissato