“tu és pó e ao pó
retornarás.” (Gn 3,19)
Terminou a terça-feira de carnaval, com ela
acabaram-se os desfiles de escolas de samba, os blocos de rua se recolheram e o
povo trocou a fantasia; é quarta-feira de cinzas e estamos na quaresma ...
Embora correndo o risco de ser repetitivo no tema,
principalmente neste período, antecipo minhas escusas, mas acredito que possa
ser interessante discorrer um pouco sobre a quarta-feira de cinzas.
Sob a ótica da curiosidade apenas, as cinzas que nos
são impostas na missa de quarta-feira de cinzas provém da queima dos ramos
utilizados na celebração do Domingo de Ramos do ano anterior.
Na liturgia católica, as cinzas, embora não seja um
sinal sacramental, a exemplo do óleo, da água, do pão e vinho, ainda assim
liga-se intimamente à oração e caminhada na busca da santificação. São elas uma
lembrança para a penitência e um necessário olhar para a nossa fragilidade;
conforme nos falou Bento XVI em sua homilia da quarta-feira de cinzas, elas são
um convite sem precedente para “acolhermos a nossa mortalidade e a impensável
proximidade de Deus”.
No início citamos Gênesis 3,19: “tu és pó e ao pó
retornarás”, onde além de recordar nossa fragilidade, corrompida pela imundice
do pecado faz referência também à criação, pois foi no pó da terra que Deus nos
modelou e recebemos Dele o sopro que nos trouxe vida.
Portanto as cinzas da quarta-feira são para que
reflitamos sobre quão fugaz é o nosso tempo na terra e serve para nos lembrar do
que restará de nós neste mundo quando formos chamados a viver definitivamente na glória de Deus.
As cinzas impostas na quarta-feira não devem ser um
ritual teatralesco, mas um definitivo marco de reflexão e oração (leiam A quaresma nossa de todos os anos). Em toda a história bíblica do homem as cinzas
associam-se a morte, dor, penitência e arrependimento: no livro de Ester 4,1
Mardoqueu veste-se de saco e cobre-se de cinzas ao saber do decreto do rei
Assuero que ordenava aniquilar todos os judeus; em Jó 42, 5-6 ele se dirige a
Javé dizendo: “eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, os meus olhos te veem.
Por isso, eu me retrato e me arrependo, sobre o pó e a cinza”. E quando
recordamos a passagem sobre Niníve em Jn 3, 1-10, onde após Jonas anunciar-lhes
o castigo de Deus que estava a caminho, todos
começam a acreditar em Deus e marcam um dia de penitência; o próprio rei também
veste-se também com um pano de saco e senta-se sobre cinzas(...), então: “ Deus
viu o que eles fizeram e como se converteram de sua má conduta; então, desistiu
do mal com que os tinha ameaçado, e não o executou”.
Outro marco de reflexão com relação a imposição das
cinzas está retratado na imagem que ilustra este texto, ali vemos sua santidade
o Papa Bento XVI, pastor de toda a nossa Igreja recebendo sobre sua cabeça as
cinzas, humildemente reconhecendo-se como criatura pecadora e aceitando o
convite à conversão.
Que a cinzas da quarta-feira sejam realmente um
convite à conversão contínua e permanente, que todos tenhamos a humildade do
nosso papa ao receber sobre si as mesmas cinzas e que elas nos ajudem a
percorrer o caminho da santificação.
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