sábado, 10 de março de 2012

Acumular prejudica o ajudar!



Na última quarta-feira (07.03.2012), quase metade do tempo quaresmal já decorrido (tempo de penitência, jejum e conversão), a revista americana Forbes divulgou o ranking anual dos maiores bilionários do mundo – The World´s Billionaires – (disponível em: http://www.forbes.com/billionaires/). Não quero aqui criticar nenhuma das pessoas que figuram nesta lista, tampouco pretendo fazer qualquer apologia ao desprendimento e ao desapego material, apesar de ter a convicção de ser este o caminho para a fraternidade e solidariedade cristã nesse nosso mundo dominado pelo monetarismo.

Esta lista deixa transparecer a constatação de que realmente o Brasil está ficando mais rico, o país nos últimos anos vem apresentando índices econômicos crescentes, produção e exportação em ascensão e grande expansão na exploração de commodities minerais e agrícolas. Somos atualmente a sétima maior economia do planeta (dados de 2011) e a cada ano, novos brasileiros passam a integrar a lista dos bilionários mundiais.

O que chamou minha atenção foi o fato de um brasileiro estar em sétimo lugar neste ranking e com uma fortuna pessoal de mais de 30 bilhões de dólares; se verificarmos que o Brasil no ano passado apresentou um PIB – Produto Interno Bruto (soma de toda a riqueza produzida pelo país) da ordem de 2,3 trilhões de dólares, o brasileiro mais rico do país possui o equivalente a mais de 13 % de toda a riqueza produzida pelo Brasil no ano de 2011, ou seja um único brasileiro tem o que 13% de nossa população de quase 200.000.000 (duzentos milhões) de pessoas produziram durante o ano.

Estamos vivendo a 49ª Campanha da Fraternidade, “Fraternidade e Saúde Pública – Que a saúde se difunda sobre a terra (eclo 38,8)”; é muito difícil verificar a situação em que se encontra a saúde do povo brasileiro, enquanto invariavelmente, as atenções do mundo continuam voltadas ao ter em detrimento do fazer. É estarrecedor constatar que o governo federal estabeleceu no orçamento para 2012 um gasto total[1] com a saúde no país de R$ 72 bi (setenta e dois bilhões de reais) e este dinheiro todo é menos do que os dois brasileiros mais ricos apresentados na tal lista da revista Forbes possuem como fortuna pessoal (mais de 75 bilhões de reais).
Os estereótipos de sucesso são largamente elogiados enquanto os verdadeiros valores cristãos são suplantados pela imposição do todo poderoso capital. Como já declarei acima, a crítica não é pessoal aos bem sucedidos bilionários brasileiros ou aos de qualquer outro lugar do mundo, até por não saber como amealharam suas fortunas; mas é sim a reação indignada de quem constata que apesar de toda a riqueza que pode ser produzida no mundo, ela dificilmente se transforma em benesses para humanidade; é a tristeza de quem percebe quão atual são as parábolas de Jesus, quando fala da viúva e as duas moedas no templo (Lc 21,2) ou do fariseu que se orgulhava de pagar o dízimo (Lc 18,12); numa e noutra, Jesus nos fala de quem deu muito do pouco que possuía e do que deu pouco do muito que tinha e ainda assim se imaginava muito bom.

Hoje, é necessário nutrir a “utopia”, conforme diz o texto base da CF 2012; construir em meio a este contexto social injusto e desigual um horizonte novo, horizonte delineado a partir do conceito de “Reino de Deus”. O cristão precisa trabalhar na construção de uma sociedade justa e igualitária e sociedade justa passa necessariamente pelo REPARTIR, pois o ACUMULAR prejudica o AJUDAR e o que talvez os que acumulam não saibam é que o céu também sabe fazer contas.

Carlos Rissato





[1]

Aqui esta incluído todo tipo de gasto público envolvendo saúde, tais como gastos com pessoal ativo e inativo, as mais diversas ações de saúde pública (combate ao câncer, PSF-Programas de Saúde Familiar, Farmácia Popular e Farmácia Básica, Programa de prevenção DST/AIDS, etc.), administração e qualificação de pessoal, vigilância sanitária, reaparelhamento do SUS, Agencia de Vigilância Sanitária-ANVISA, Fundação Nacional de Saúde-FUNASA, Fundação Osvaldo Cruz-FIOCRUZ, etc.

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