Neste próximo domingo
viveremos o 2º Domingo do Tempo Comum – Ano C, ao menos atento pode parecer
estranho que seja proclamado o Evangelho de João, pois no tempo comum do ciclo
C acompanhamos Lucas.
A explicação é que anteriormente
a Epifania celebrava três eventos: a Adoração dos Magos, o batismo de Jesus e as
bodas em Caná. Atualmente a liturgia celebra no dia da Epifania apenas a
Adoração dos Magos, e nos domingos seguintes os outros dois eventos. Por isso temos
neste domingo o Evangelho de João, que é o único que conta a Bodas de Caná na
Galileia.
"Um casamento na
Galileia"; é nesse espaço que se desenrola uma história que nos traz algo
inesperado e surpreendente - A primeira intervenção pública de Jesus, o início
dos “sinais” e nada há de religioso ali, nem tampouco acontece em um lugar
sagrado. Jesus começa a sua atividade profética "salvando" uma festa
de casamento que poderia acabar mal.
Nessas aldeias pobres da
Galileia, as bodas era algo por demais apreciado. Durante muitos dias, a
família e os amigos, partilhavam com o novo casal comida e bebida, dançando e
cantando o amor. Casamento, já no Antigo Testamento é usado para simbolizar a
aliança de Deus com seu povo e a ele se associa a ideia de festa, o símbolo dos
tempos messiânicos. O vinho era uma parte inseparável do banquete, a abundância
de vinho era o melhor sinal do favor de Deus.
O Evangelho de João nos diz que Jesus estava no meio de um desses casamentos quando realizou o "primeiro sinal", um “sinal” que nos dá a chave para entender todas as suas ações e o significado mais profundo de sua missão de salvação.
João não fala em
"milagres". Os gestos surpreendentes de Jesus são por ele chamados de
"sinais". Ele não quer correr o risco de que seus leitores fiquem por
demais deslumbrados com o prodígio do fato, quer sim, que reflitamos acerca do
significado mais profundo de cada um destes sinais.
A análise fria e textual pode acenar com inconsistências, pois, era tarefa do mestre-sala prever e providenciar comida e bebida suficientes para a festa; não seria provável que um convidado fosse a pessoa a perceber e se preocupar em resolver a falta de bebida; mais irregular ainda é que numa casa se encontrassem tantas talhas de cem litros cada (numa casa daquela época o comum eram alguns poucos vasos de cerca de 20 a 30 litros, dedicados às purificações). Por fim, o mestre-sala repreendeu o noivo por servir vinho pior no começo, sendo que ele era quem determinava o que seria servido.
Mas João nos conta que, Maria atenta aos detalhes da festa, constata a falta de vinho e relata isto a Jesus. Provavelmente o jovem casal seria menosprezado e humilhado pelos convidados, e Maria antecipa-se em defesa deles, ela confia em Jesus; e Ele intervém para salvar a nova família, fornecendo vinho em abundância e de excelente qualidade.
Este gesto de Jesus
ajuda-nos a compreender o sentido de sua vida e os fundamentos do projeto do
reino de Deus. Enquanto os líderes religiosos e os mestres da lei preocupam-se
com os preceitos religiosos, Jesus se dedica a tornar mais humana e digna a
vida das pessoas. Ele nos oferece o vinho do verdadeiro amor, ainda não
experimentado por nós e por isso, muito melhor que qualquer outro vinho já
servido.
Os Evangelhos apresentam Jesus concentrado, não na religião, mas na vida e não apenas na vida dos religiosos e piedosos, mas principalmente na vida dos mais injustiçados e sofridos, na vida dos mais desconsiderados e humilhados. Jesus se dedica o tempo todo a levar a cada um, dignidade e amor, “sinal” de um Deus infinitamente misericordioso e eternamente fiel.
Carlos Rissato
(este texto é uma releitura de José Antonio Pagola – “Un gesto poco
religioso”)
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