Ao pensar no relato da criação, em Gênesis,
observamos que Deus não quer apenas que o Homem exista como as demais
criaturas, ele nos fez para que sejamos participativos e nos criou a sua imagem
e semelhança; isto implica em participar da inteligência e liberdade divinas.
Somos convidados a viver na intimidade de Deus e isto acontece quando vivemos
no Amor de Deus.
Como SER humano, o homem é único, comunitário e
divino; é um SER único na medida em que foi criado por Deus para ser responsável
por todas as outras coisas criadas e é livre para cultivar, viver e amar (Gn 1,
26-30). Assim cada SER é único em suas escolhas e vontades, podendo livremente
decidir – Livre Arbítrio.
Ao mesmo tempo o SER é comunitário, seguindo o
relato de Gênesis, Deus afirma: “não é bom que o homem esteja sozinho, vou
fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante” (Gn 2,18); e assim os,
criou homem e mulher, para viver em comunidade, a sua imagem e semelhança. O
que realiza o SER humano é o diálogo, a comunhão e a vida comunitária, sem
comunidade não há partilha e o amor não se desenvolve; portanto, Deus não nos
criou para o individualismo egoísta mas sim para o amor fraterno e a vida em
comum.
E por fim, o SER é divino, pois fomos criados por
Deus, a sua imagem e semelhança; somos seus filhos. Ainda no capitulo sobre a
criação, a Palavra ensina: “Deus fez o homem a sua imagem e semelhança e soprou
nele o espírito de vida” (Gn 2,7). Definitivamente há algo de divino em cada ser
humano. Há alguém acima de nós e dentro de nós que nos ama, é o Pai, que nos
convida a viver como seus filhos e nos dá a capacidade de sermos realmente
livres e irmãos.
Também somos transmissores da graça divina quando
obedecemos a ordem do Pai e somos instrumento de continuidade da sua obra da
criação, cumprindo com o ordenado em Gênesis 1, 28: “ E Deus os abençoou e lhes
disse: Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra, dominem os
peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a
terra".
Porém neste mundo secularizado onde os
relacionamentos são líquidos[1],
onde somos atacados ininterruptamente pelo apelo consumista, pela apologia ao
individualismo e a meritocracia exacerbada[2],
constantemente nos esquecemos da tridimensionalidade do SER: únicos nas
características, comunitário no agir e propriedade divina no viver. Comportamo-nos
como únicos no existir, suplantamos o comunitário com nosso egoísmo e
desdenhamos do divino com nossa prepotência e arrogância. Ignoramos o SER e
idolatramos o ter.
Mas se o mundo nos impele a esse tipo de
comportamento, se nossa sociedade de extrema competitividade exige cada vez
mais superação frente aos outros, se, sem perceber nos preocupamos menos com o
problema do próximo e mais com a solução dos nossos; como fazer para mudar,
para não nos desviar do caminho?
Cada um de nós tem que encontrar conforme sua
unicidade o procedimento mais adequado ao seu SER, mas a receita é uma só, foi
ensinada por Jesus aos discípulos: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se
uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”
(João 13,34-35) É desta forma que, apesar da diferença que nos identifica
seremos sempre iguais no amor a DEUS.
Carlos Rissato
[1]
Fica aqui a referência às obras de Zygmunt
Bauman, sociólogo polonês,
onde ele tece profunda e coerente
critica à velocidade e facilidade (liquidez) com que os homens alteram
seus valores pessoais, convicções
e relacionamentos.
[1] O princípio da
Meritocracia, cujo cerne está contido na máxima “a cada um é dado o que merece”
ou mais ainda “cada
um vale o que tem” serviu,
ao longo da história, de respaldo à perpetuação da dominação e ainda hoje serve
com excelência a esse fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário