quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SER


Ao pensar no relato da criação, em Gênesis, observamos que Deus não quer apenas que o Homem exista como as demais criaturas, ele nos fez para que sejamos participativos e nos criou a sua imagem e semelhança; isto implica em participar da inteligência e liberdade divinas. Somos convidados a viver na intimidade de Deus e isto acontece quando vivemos no Amor de Deus.
Como SER humano, o homem é único, comunitário e divino; é um SER único na medida em que foi criado por Deus para ser responsável por todas as outras coisas criadas e é livre para cultivar, viver e amar (Gn 1, 26-30). Assim cada SER é único em suas escolhas e vontades, podendo livremente decidir – Livre Arbítrio.


Ao mesmo tempo o SER é comunitário, seguindo o relato de Gênesis, Deus afirma: “não é bom que o homem esteja sozinho, vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante” (Gn 2,18); e assim os, criou homem e mulher, para viver em comunidade, a sua imagem e semelhança. O que realiza o SER humano é o diálogo, a comunhão e a vida comunitária, sem comunidade não há partilha e o amor não se desenvolve; portanto, Deus não nos criou para o individualismo egoísta mas sim para o amor fraterno e a vida em comum.
E por fim, o SER é divino, pois fomos criados por Deus, a sua imagem e semelhança; somos seus filhos. Ainda no capitulo sobre a criação, a Palavra ensina: “Deus fez o homem a sua imagem e semelhança e soprou nele o espírito de vida” (Gn 2,7). Definitivamente há algo de divino em cada ser humano. Há alguém acima de nós e dentro de nós que nos ama, é o Pai, que nos convida a viver como seus filhos e nos dá a capacidade de sermos realmente livres e irmãos.

Também somos transmissores da graça divina quando obedecemos a ordem do Pai e somos instrumento de continuidade da sua obra da criação, cumprindo com o ordenado em Gênesis 1, 28: “ E Deus os abençoou e lhes disse: Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra, dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra".
Porém neste mundo secularizado onde os relacionamentos são líquidos[1], onde somos atacados ininterruptamente pelo apelo consumista, pela apologia ao individualismo e a meritocracia exacerbada[2], constantemente nos esquecemos da tridimensionalidade do SER: únicos nas características, comunitário no agir e propriedade divina no viver. Comportamo-nos como únicos no existir, suplantamos o comunitário com nosso egoísmo e desdenhamos do divino com nossa prepotência e arrogância. Ignoramos o SER e idolatramos o ter.

Mas se o mundo nos impele a esse tipo de comportamento, se nossa sociedade de extrema competitividade exige cada vez mais superação frente aos outros, se, sem perceber nos preocupamos menos com o problema do próximo e mais com a solução dos nossos; como fazer para mudar, para não nos desviar do caminho?
Cada um de nós tem que encontrar conforme sua unicidade o procedimento mais adequado ao seu SER, mas a receita é uma só, foi ensinada por Jesus aos discípulos: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros” (João 13,34-35) É desta forma que, apesar da diferença que nos identifica seremos sempre iguais no amor a DEUS.


Carlos Rissato


[1] Fica aqui a referência às obras de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, onde ele tece profunda e coerente critica à velocidade  e facilidade (liquidez) com que os homens alteram seus valores pessoais, convicções e relacionamentos.
[1] O princípio da Meritocracia, cujo cerne está contido na máxima “a cada um é dado o que merece” ou mais ainda “cada um vale o que temserviu, ao longo da história, de respaldo à perpetuação da dominação e ainda hoje serve com excelência a esse fim.

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